21 novembro, 2006

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Por virtude da sua situação económica de extrema pobreza, o estudante é condenado a um certo modo de sobreviveência bem pouco invejável. Mas, sempre satisfeito por ser aquilo que é, eleva a sua miséria trivial à categoria de um "estilo de vida": o miserabilismo e a boémia. Ora a "boémia", já longe de constituir uma solução original, nunca é autenticamente vivida a não ser na sequência duma rotura completa e irreversível como o meio universitário. Os partidários da boémia no seio dos estudantes (e todos se gabam de o ser um pouco) limitam-se pois a agarrar-se a uma versão artificial e degradada do que não passa, e no melhor dos casos, duma medíocre solução individual. Até o desprezo das velhinhas provincianas, por isso, eles merecem. Estes "originais" continuam, trinta anos depois do que fez esse exelente educador da juventude que foi Wilhelm Reich, a ter os comportamentos erótico-amorosos mais tradicionais, reproduzindo as relações genéricas da sociedade de classes nas suas relações intersexuais. A aptidão do estudante para se transformar em militante de toda e qualquer espécie é, aliás, da sua impotência, elucidação bastante. Na margem de liberdade individual permitida pelo espectáculo totalitario, e apesar do seu emprego do tempo mais ou menos descuidado, o estudante continua a ignorar a aventura, a ela perferindo um espaço-tempo quotidiano feito de estreiteza, ordenado em sua intenção pelas barreiras desse mesmo espectáculo.

Exerto de "Da miséria do meio estudantil" - in I.S. nº8

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